Só depois de ter lançado A Biblioterapeuta adquiri o hábito de fazer o balanço das minhas actividades profissionais quando chego aos últimos dias de Dezembro. Sempre me considerei uma boa profissional enquanto trabalhei sob a alçada de patrões e chefes; mas que este exercício nunca me tenha passado pela cabeça em quase vinte anos de trabalho para os outros diz muito sobre o quanto tudo muda quando decidimos trabalhar para nós.
Acabo de percorrer a minha agenda de 2021 com espanto, acreditem. Na voragem das solicitações e dos compromissos não me dei conta do quanto trabalhei, embora por vezes me sentisse muito cansada mas também, e acima de tudo, realizada e feliz. Dinamizei 30 oficinas sobre Biblioterapia, o cérebro leitor e a promoção da leitura; como palestrante, participei em meia dúzia de eventos em vários pontos do país, onde falei sobre Biblioterapia e os benefícios do hábito de ler; fui entrevistada para a TSF duas vezes, para as revistas “Notícias Magazine”, “Somos Livros” e “Magafone”, assim como para o projecto do Parlamento Europeu “Fazer Acontecer a Europa Social”, sempre para divulgar o método Biblioterapêutico; fiz o curso online de Introdução à Psicologia da Universidade de Yale (na plataforma Coursera); comecei, em Agosto, uma Pós-Graduação em Biblioterapia que me ocupará no mínimo até Agosto de 2022; produzi conteúdos sobre Biblioterapia para clientes institucionais e para a nova revista literária “Palavrar”; em regime de voluntariado dediquei algumas horas à leitura em voz alta para os utentes da ACAPO (Ass. de Cegos e Amblíopes de Portugal) e dinamizei as sessões mensais do Clube de Leitura d’ A Biblioterapeuta, num total de doze encontros. No meio de tudo isto — e de muitas outras coisas, porque a vida não é só Biblioterapia e trabalho — li 60 livros.
Estes 60 livros são a prova de que há sempre tempo para o que definimos como prioritário nas nossas vidas. E ler é duplamente prioritário para mim: porque não poderia ser uma boa profissional de Biblioterapia se lesse um livro por ano (a média de livros lidos por cada português em 2020, sendo que cerca de 60% dos portugueses não leu um único livro…); porque ler é uma enorme fonte de prazer da qual não quero prescindir nunca. Ler é algo que me define: eu sou leitora.
Não foi fácil a tarefa de organizar estes 60 títulos em categorias que vos pudessem interessar. A cada ano que passa escolho melhor o que leio e por isso se torna cada vez mais penoso classificar os livros numa ordem qualquer, já que são muitos os que merecem os lugares cimeiros. Mas, enfim, lá consegui escolher os melhores nas categorias Ficção, Não Ficção e Infantojuvenil (sem lhes atribuir uma ordem específica):
FICÇÃO










NÃO FICÇÃO










INFANTOJUVENIL







Para além disso, as minhas leituras de 2021 podem ainda ser organizadas da seguinte forma:
Grandes Regressos a Elena Ferrante com “Crónicas do Mal de Amor”; Grazia Deledda com “Cinzas”; Eça de Queirós com “A Correspondência de Fradique Mendes”; Rita Ferro com “Uma Mulher Não Chora”; Alphonse Daudet com “La Chèvre de Monsieur Seguin”; Julian Barnes com “A Única História”; Marlene Ferraz com “As Falsas Memórias de Manoel Luz” e Marcela Serrano com “Até Sempre, Mulherzinhas”.
Grandes Primeiras Vezes com Itamar Vieira Júnior e o seu “Torto Arado”; Collum McCann com “Apeirogon”; Amin Malouf com “Samarcanda”; João Pinto Coelho com “Os Loucos da Rua Mazur”; Ocean Vuong com “Na Terra Somos Brevemente Magníficos“; Irene Vallejo com “O Infinito Num Junco”; Michèle Petit com “Ler o Mundo“; “Mary Oliver com “Felicidade”; Louise Glück com “Vita Nova”; Edna O’Brien com “Pequenas Cadeiras Vermelhas”; Maria Velho da Costa com “Lucialima”; Eimar McBride com “Uma Rapariga é Uma Coisa Inacabada”; Toni Morrison com “A Dádiva“; Maria Teresa Horta com “Meninas“; Rainer Maria Rilka com “Cartas a um Jovem Poeta” e Jane Austen com “Orgulho e Preconceito”. Fica a vontade de ler os outros livros de todos estes autores.
Destes 60 livros houve títulos que reli: “La Chèvre de Monsieur Seguin”, de Alphonde Daudet, talvez o livro mais marcante da minha infância, sendo impossível saber quantas vezes já o li; “O Amante”, de Marguerite Duras, já lá vão três leituras deste clássico; “Montaigne”, de Stefan Zweig, uma biografia do filósofo do século XVI que continua a inspirar-me; “Três Vezes Irão”, um relato breve das minhas três viagens ao Irão, publicado este ano pelas Edições Húmus (mais uma razão para 2021 ter sido um ano excelente!). E antes que me tomem por narcisista, explico que os três últimos livros desta lista foram lidos em voz alta no âmbito das horas de voluntariado na ACAPO e que a leitura do meu próprio livro se deveu a pedidos insistentes dos utentes daquela instituição.
Antes de vos deixar, gostaria de registar algumas notas finais: tal como em 2020, em 2021 continuei a dar prioridade à literatura produzida por mulheres. Mais de metade da minha lista de leituras é de autoras, como poderão verificar abaixo. Em 2022 não será diferente. Embora não o aponte como um dos melhores livros do ano, “Lucialima”, de Maria Velho da Costa, tem das primeiras páginas mais belas que alguma vez li (procurem-no nas bibliotecas públicas, porque nas livrarias está esgotado há muito, o que é triste…); “Felicidade”, de Mary Oliver, é como ter um raio de luz nas mãos, aceitei cada poema seu como um dia de Verão e céu azul junto ao mar; que bom que foi regressar à perspicácia e inteligência de Rita Ferro com “Uma Mulher não Chora”, onde num certo capítulo existe um tratado memorável sobre sexo; Edna O’Brien e Eimar McBride confirmam que a literatura irlandesa no feminino é excelente e potente; Maria Teresa Horta tem o absoluto domínio da linguagem, um vocabulário riquíssimo que alimenta a nossa mente com imagens sensuais e pungentes; e Elena Ferrante é, de momento, a minha autora-casa: acolhe-me e compreende-me. A maior desilusão foi proporcionada por Clarice Lispector com o seu “Perto do Coração Selvagem“, um livro do qual não gostei nada. Certamente, não me terá chegado às mãos na altura certa.
Gostaria muito de saber que livros foram mais importantes para vós em 2021 e o que pensam ler em 2022. Eu já comecei a ler “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, que é um dos meus objectivo de vida enquanto leitora.
Por favor, escrevam tudo nos comentários! 🙂
Bom ano! Boas leituras!
A LISTA COMPLETA:
Que prazer renovado ler esta lista. Obrigada, Sandra, por isto. Em 2022, conto ler o que fizer mais sentido, mas parece me que vai ser o ano dos clássicos. Um abraço de saudades
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Olá, Ana! Eu também acho que vai ser um ano mais dedicado aos clássicos. Tenho algumas lacunas que preciso muito de colmatar, até por razões profissionais. Boas leituras! Um beijinho.
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La petite chèvre de Monsieur Seguin, está também nas minhas memórias de infância. Que bom ter-me relembrado.
Vou tentar lê-lo este ano!
De resto, uma lista invejável.
Parabéns e obrigada!
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Obrigada pelo comentário, Regina! Encontrei vários PDFs online com o conto de Daudet e foi assim que voltei à sua leitura as vezes que quis nos últimos tempos. Infelizmente, não sei o que é feito do meu velho livro… 😦 Um beijinho!
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