A Biblioterapia no trabalho: como usar livros e leitura para criar um local de trabalho saudável

A BIBLIOTERAPIA é um método facilitador do desenvolvimento pessoal e da resolução de problemas através dos livros, que pode ser aplicado em qualquer circunstância, de forma preventiva ou perante dificuldades já declaradas, individualmente ou em grupo e independentemente da idade dos participantes.

Implementar projectos de BIBLIOTERAPIA NO TRABALHO — de acordo com as necessidades identificadas à partida pelo cliente e os objetivos que pretende atingir — permite trabalhar um conjunto de competências pessoais muito específicas, as tão valorizadas soft skills.

O livro certo, ou até um pequeno texto cuidadosamente selecionado, podem ajudar a mudar para melhor pensamentos, atitudes e comportamentos, como por exemplo: a resistência à mudança, a gestão do tempo e a procrastinação, a falta de foco e de motivação, o trabalho rotineiro por um lado e a exigência criativa por outro, a relação com os colegas e as hierarquias ou a tomada de decisões.

Vejam a seguir um conjunto de títulos selecionados para trabalhar as cinco soft skills que o LinkedIn considerou as mais procuradas por quem precisa de contratar em 2020:

1. BIBLIOTERAPIA PARA A CRIATIVIDADE

As organizações precisam de pessoas que em qualquer tarefa possam abordar de forma criativa os problemas que surgem.

O Elogio da Lentidão”, do médico e cientista italiano Lamberto Maffei, explica, em apenas 130 páginas, o tempo do funcionamento do cérebro (depressa e devagar), elucida sobre os perigos de funcionarmos constantemente em modo rápido (logo superficial e até primitivo…) e informa sobre o caldo primordial necessário para o pensamento criativo. Sim, adivinharam, a lentidão é fundamental.

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Por seu lado, “Vamos Comprar um Poeta”, do autor português Afonso Cruz”, conta também em poucas páginas (88, precisamente) o que acontece a uma família peculiar — que gere todos os aspectos da sua vida como quem gere uma folha Excel —  quando um poeta, criativo por natureza, entra nas suas vidas para lhes fazer ver que o que antes consideravam inútil pode ser mais do que útil — pode ser vital.

2. BIBLIOTERAPIA PARA A PERSUASÃO

Quem contrata procura pessoas que saibam explicar o “porquê”, isto é, alguém que saiba comunicar de forma clara e convencer os outros a seguir as suas ideias.

Não são poucas as ocasiões em que somos nós que falhamos nessa tarefa de persuasão e em vez de reconhecermos que não fomos eficazes na comunicação preferimos achar que os outros não nos entenderam porque são tacanhos, não têm visão, enfim, são estúpidos e ainda por cima são quase sempre quem manda. Num exercício muito lúcido, inteligente e, acima de tudo, urgente, “O Que Fazer dos Estúpidos” (184 páginas), do filósofo francês Maxime Rovere, convida o leitor a olhar primeiro para si enquanto o estúpido que também é.

Já com a “A Força da Coragem”, Brené Brown, doutorada e investigadora e na área das Ciências Sociais, explica como é determinante acreditarmos que temos valor enquanto pessoas e profissionais, porque só a partir daí teremos coragem para fazer qualquer coisa — persuadir os outros de que a nossa ideia é boa, por exemplo — mesmo não havendo qualquer garantia de sucesso para a nossa iniciativa. A autora, que trabalha com líderes e colaboradores das grandes corporações norte-americanas, convida-nos a abraçar a nossa vulnerabilidade, por considerá-la o lugar de nascimento da alegria, da integração e da criatividade.

3. BIBLIOTERAPIA PARA A COLABORAÇÃO

A capacidade para trabalhar em equipa permite às organizações atingir objetivos que uma só pessoa dificilmente alcançaria. Por isso, é importante sabermos como as nossa forças podem complementar as forças dos nossos líderes e colegas de trabalho.

Voo Nocturno”, do autor e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, conta-nos a história de um grupo de pilotos pioneiros nos voos transatlânticos nocturnos, quando os instrumentos de navegação eram ainda muito rudimentares. O responsável pela equipa controla todos os detalhes inerentes às operações e, graças ao espírito de equipa e postura arrojada de todos, leva a equipa ao limite, convicto de que para progredir é preciso arriscar e de que o saldo final será positivo. É um livro que nos ensina de que massa são feitos os pioneiros e quais os valores que os orientam.

O Deus das Moscas”, do autor britânico William Golding, é já um clássico da literatura universal. Após a queda de um avião algures no oceano Pacífico, um grupo de rapazes, crianças e adolescentes, vêem-se sós numa ilha deserta.  Sem a supervisão de adultos, a liberdade de acção é total e os constrangimentos sociais desaparecem. Mas é preciso sobreviver e essa sobrevivência exige colaboração. É provável que o carácter de alguns destes rapazes vos façam lembrar alguém com quem já trabalharam ou ainda trabalham.

4. BIBLIOTERAPIA PARA A ADAPTABILIDADE

Poucas coisas na vida estão tão garantidas quanto a mudança constante e quem lutar contra ou resistir a esta evidência estará a colocar dificuldades acrescidas no seu caminho. Portanto é essencial abraçar a mudança, de preferência mantendo a mente aberta e uma atitude positiva.

A Biblioterapeuta - Biblioterapia - Sandra Barão Nobre - Livros Inspiradores em 2018 - É isto que eu faço - Lynsey Addario

Lynsey Addario regista em “É Isto que eu Faço” as memórias do seu percurso e das mudanças que este acarretou até alcançar o estatuto de uma das maiores fotojornalistas do nosso tempo, e conta como foi trabalhar, adaptar-se e persistir em cenários de guerra no Paquistão, no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, no Darfur, na República Democrática do Congo e na Somália. Este é dos livros que mais recomendo desde que o li em 2018.

A Biblioterapeuta - Biblioterapia - Sandra Barão Nobre - Uma Educação - Tara Westover

Em “Uma educação”, Tara Westover também nos conta a história da sua vida. Criada numa família mormón ultraortodoxa (cujo patriarca passou anos a prepara-se para o fim do mundo e a escravizar os filhos no decorrer desse processo), Tara viu a vida em risco por diversas vezes no ferro velho e na quinta onde trabalhava, sem ter a oportunidade de ir à escola. Contudo, aos 16 anos deu início ao processo de desvinculação da sua comunidade e ao retomar dos estudos, tendo obtido um doutoramento em História pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

5. BIBLIOTERAPIA PARA A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

A capacidade para identificar, avaliar e gerir as nossas próprias emoções e as emoções dos outros está na base da nossa capacidade de colaboração e é igualmente uma das qualidades mais valorizadas pelos empregadores.

Para nos mantermos equânimes nesta tarefa e conservar a serenidade perante a prosperidade e a adversidade, recomendo a leitura de “Lessons in Stoicism”, de John Sellars, professor de Filosofia na Universidade de Londres e especialista em estoicismo. Não, os estoicos não são bestas sem coração, nem o estoicismo advoga o anular das emoções para viver melhor ou ser melhor profissional. Antes pelo contrário, ajuda-nos a identificá-las, a reconhecer que as sentimos e a dar-lhes a atenção e o valor que merecem consoante a circunstância em que emergem, mas sem que nos dominem.

A filosofia budista, à sua maneira, preconiza exatamente o mesmo que o estoicismo e é sobre isso que nos fala Robert Wright, professor na Universidade de Princeton, quando, explorando os factos científicos revelados pela prática regular da meditação, nos explica porque é que “O Budismo Tem Razão”. O objetivo é que não nos deixemos dominar pelos muitos altos e baixos emocionais que experienciamos e que também testemunhamos nos outros. Aceitarmos a impermanência das coisas, exercitar o desapego e não nos identificarmos com as construções mentais falaciosas que nós — e também outras pessoas! — erguemos acerca de nós mesmos, são algumas das estratégias apontadas para uma vida emocionalmente inteligente.

PARA TERMINAR

Os géneros literários aqui recomendados têm mais potencial no respeitante à BIBLIOTERAPIA NO TRABALHO do que livros puramente técnicos, por norma menos exigentes no exercício de submersão no texto que é necessária ao processo biblioterapêutico.

A Biblioterapia parte do princípio que os textos de pendor literário envolvem emocionalmente o leitor e que este, ao levar para o livro toda a sua experiência acumulada e a forma como apreende a realidade no dia-a-dia, vai não só recordar o que já sabe, como fazer novas associações e também extrapolações. É aí que a transformação começa. Boas leituras!

***

Vai querer saber mais sobre como a Biblioterapia pode ajudá-lo/a a si, à sua empresa e aos seus colaboradores a alcançar um novo patamar no desenvolvimento de competências pessoais e na resolução de problemas. Estou totalmente disponível para conversar. Vamos manter-nos em contacto?

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