BIBLIOTERAPIA | O requinte do inacabado*

“A biblioterapia procura essencialmente (…) permitir ao Homem escapar a um encarceramento do destino (…) procura sistematicamente sair de qualquer enclausuramento fatal (…).”

Marc-Alain Ouaknin em “Bibliothérapie: lire c’est guérire”

Admito nunca ter pensado na biblioterapia exactamente nestes termos mas, perante o desafio proposto para esta edição da Palavrar, ouso afirmar, poeticamente, que a prática biblioterapêutica se alicerça com requinte sobre dois pilares inacabados — as histórias e o ser humano.

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O que aconteceu em Março e Abril

Este ano, a Semana da Leitura, uma iniciativa do Plano Nacional de Leitura, dividiu-se entre o último dia de Março e os primeiros dias de Abril. Na prática, acabou por contaminar, na melhor acepção do termo, estes dois meses, tendo muitos municípios, bibliotecas municipais e escolares e outras entidades aproveitado tanto Março, como Abril para celebrar localmente os livros e os leitores, também à boleia do Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor (assinalado a 23 de Abril). E eu fui convidada a participar em muitas dessas celebrações, o que me fez muito feliz.

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O que aconteceu em Fevereiro

O mês mais curto do ano é para mim, de há vinte e cinco anos a esta parte, o mês das magnólias em flor. Creio que nunca tinha dado verdadeira atenção a estas árvores lindas, antes de vir viver para a área do Porto. Tenho, até, identificadas as minhas magnólias favoritas na cidade: a que fica na Praça da Liberdade e tem flores brancas; e uma, em particular, das três magnólias que ficam na lateral da igreja da Trindade, que tem flores cor-de-rosa. Ano após ano, é mais forte do que eu — fotografo-as sempre.

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BIBLIOTERAPIA | Diz-me o que ouves*

Defendo que não existe biblioterapia sem diálogo — entre o leitor e a história que lê, ouve narrada ou vê dramatizada; do leitor consigo mesmo, num exercício de introspecção suscitado pela história; e entre o biblioterapeuta e todos os participantes no processo biblioterapêutico, para reflectir em conjunto sobre a história com a qual interagiram.

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O que aconteceu em Janeiro

Não gosto do Inverno e sei que o mês de Janeiro apanha por tabela. Suporto Dezembro por causa do Natal e da passagem de ano, embora a minha tolerância aos exageros do espírito festivo — demasiadas solicitações, demasiadas compras (muitas desnecessárias), demasiado ruído real e metafórico, uma certa obrigação de estar-se alegre — tenha vindo a diminuir. Mas adoro a noite da consoada e o dia de Natal com a família. Por isso, vivo o último mês do ano com o foco nesses momentos. A passagem de ano é sempre uma ocasião para balanços, introspecções e algumas promessas realistas feitas a mim mesma, um ritual esperançoso a que me tenho afeiçoado. Depois, chega Janeiro, árido, sombrio, frio e chato, associado, na minha psique, ao esforço do recomeço — vamos lá, empurrar esta pedra, de novo, um mês de cada vez, até ao topo da montanha!

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Tempo de balanços

A título profissional, 2024 foi um ano admirável, marcado pelo lançamento do meu livro “Ler Para Viver – Como a biblioterapia pode melhorar as nossas vidas”, o primeiro livro português sobre biblioterapia. Volto a agradecer (agradecerei sempre!) à Penguin Random House Portugal, à chancela Nascente e ao meu editor Jorge Silva por terem acreditado em mim e neste livro; e à autora Isabela Figueiredo por ter aceitado prefaciá-lo. Percorri Portugal continental entre Abril e Dezembro para apresentar o livro trinta e uma vezes. Em todas essas ocasiões, tanto os profissionais da Penguin como Isabela Figueiredo foram mencionados e alvo da minha profunda gratidão.

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BIBLIOTERAPIA | Dar o corpo aos pecados

Lembro-me daqueles anos, quando adolescente ou jovem adulta, em que acreditava que a vida podia ser bastante simples se nós, os humanos, não tivéssemos esta apetência estúpida para complicar tudo. Era uma ignorante que vivia no mundo do preto e do branco, alheia às infinitas hipóteses dos cinzentos.[1] Se a natureza é altamente complexa, como poderia o Homem ser simplório ou linear? O facto é que sobre este acumulado de complexidades construímos, a partir de cada indivíduo, realidades coletivas sofisticadas e intrincadas que espelham tudo o que encerramos — das facetas mais elevadas, luminosas e altruístas aos ângulos mais egocêntricos, sombrios e abjectos.

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