Este ano, a Semana da Leitura, uma iniciativa do Plano Nacional de Leitura, dividiu-se entre o último dia de Março e os primeiros dias de Abril. Na prática, acabou por contaminar, na melhor acepção do termo, estes dois meses, tendo muitos municípios, bibliotecas municipais e escolares e outras entidades aproveitado tanto Março, como Abril para celebrar localmente os livros e os leitores, também à boleia do Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor (assinalado a 23 de Abril). E eu fui convidada a participar em muitas dessas celebrações, o que me fez muito feliz.
Porém, estes dois meses exigiram bastante de mim, não só na preparação de cada evento, como nas muitas viagens que fiz dentro do país. Daí que só agora esteja a regressar à redacção das newsletters mensais e vos proponha, desta vez, um dois em um, com um resumo do que aconteceu de mais significativo nos últimos dois meses. Obrigada por terem pacientado e por lerem estas palavras.
A minha primeira deslocação foi a FARO e a uma biblioteca municipal onde já tinha trabalhado em 2021. Regressei para dinamizar a oficina “Cérebro Leitor” — na qual proponho aos participantes que acompanhemos o Homo Sapiens a partir do momento em que começou a ler; vejamos como evoluiu essa capacidade e que impacto teve na vida de todos; e descubramos o que acontece no cérebro quando lemos uma palavra ou um livro inteiro, o que transborda para as nossas vidas a partir da leitura profunda e que desafios impõe a leitura no digital —; para mediar um Círculo de Biblioterapia com um grupo de reclusos do Estabelecimento Prisional da cidade, no âmbito da iniciativa Biblioteca Fora de Portas — o texto que escolhi para a ocasião foi “Tudo é Possível”, de Kobi Yamada —; e para moderar a sessão mensal do Clube de Leitura da biblioteca municipal, que comemora este ano o seu 20.º aniversário — o livro que sugeri que lêssemos foi “Natureza Urbana”, de Joana Bértholo, uma autora e um conto que nenhum dos membros do clube conheciam e que foram acolhidos por todos com enorme entusiasmo, abrindo o apetite para a exploração de outras obras da autora.

Ainda em Março, visitei pela primeira vez a cidade do ENTRONCAMENTO na minha qualidade de biblioterapeuta. Também por ocasião da Semana da Leitura, fui ao Agrupamento de Escolas da Cidade do Entroncamento para dinamizar dois Círculos de Biblioterapia: um com uma turma do 8.º ano e outro com uma turma do 10º ano. Para a turma do 8.º ano, escolhi o livro “O pedaço que falta”, de Shel Silverstein; e para a turma do 10.º, escolhi o texto “Não há problema”, que integra “O livro do conforto”, de Matt Haig. A biblioteca escolar estava devidamente preparada com uma linda Farmácia Literária, criada pela professora bibliotecária e a sua equipa, em parte inspirada no meu livro “Ler Para Viver”, mas com muitos outros títulos seleccionados segundo o acervo da biblioteca e os critérios da equipa bibliotecária. Havia grandes balões de laboratório cheios de pequenos rolos de papel contendo receitas de leitura, de acordo com as “maleitas” assinaladas. No final de cada actividade os alunos foram convidados a retirar sugestões de leitura desses balões. As duas turmas avaliaram muito positivamente os Círculos de Biblioterapia e manifestaram a vontade de repetir a experiência.



Março também me levou a LISBOA e ao Primeiro Congresso Português de Medicina e Literatura, organizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Passei um dia memorável na companhia dos organizadores do encontro, dos outros palestrantes e do público composto por centenas de pessoas. Enquanto oradora, esta foi a ocasião para apresentar-me e apresentar o meu trabalho na área da biblioterapia a uma plateia maioritariamente ocupada por profissionais de saúde convictos de que as pontes entre a medicina e a literatura importam, são necessárias, contribuem para a nossa saúde, devem ser estudadas e reforçadas. A minha comunicação foi muito bem acolhida e estou profundamente grata à organização pelo convite que me endereçou.
Março fechou com o regresso a PAÇOS DE FERREIRA. Em 2024 marquei presença na Feira do Livro da cidade, com a apresentação do meu livro “Ler Para Viver”; este ano fui inaugurar a Semana da Leitura com uma breve introdução à biblioterapia e aos seus benefícios, uma intervenção pensada para os alunos do ensino secundário do concelho. O auditório da biblioteca estava à pinha e a participação dos alunos, que foram intervindo com perguntas ou comentários, foi fundamental para que as minhas palavras tenham suscitado o interesse de todos.


Chega Abril, o mês da nossa liberdade e da renovação de todas as esperanças políticas — e digo apenas “políticas”, porque a política está em toda a parte e impregna todos os aspectos das nossas vidas, logo toda as esperanças (e desesperanças também). Inaugurei o mês dos cravos em BARCELOS — que linda estava a cidade, vestida de flores —, no âmbito da Semana da Leitura do município. Fui convidada para conversar com os alunos de diferentes anos lectivos sobre os benefícios da leitura na óptica da biblioterapia. Encontrei outro auditório cheio e público atento.

Segui para a MEALHADA, a convite do município e da sua biblioteca para participar no Festival Literário da Mealhada que, na data da minha palestra, coincidiu com a Primeira Feira da Saúde, por ocasião do Dia Mundial da Saúde. Um dois em um que assenta que nem uma luva à biblioterapia. O público foi muito participativo — que pena o tempo ser sempre tão escasso para responder a todas as perguntas, satisfazer todas as curiosidades — e seguiu-se uma sessão de autógrafos de “Ler Para Viver” e também de “Uma Volta ao Mundo com Leitores” que, para surpresa minha, estava à venda na Feira do Livro.



Depois da zona da Bairrada, fui para a zona Oeste, mais concretamente para MINDE onde decorreu a terceira edição do Retiro de Leitura d’a Biblioterapeuta. Regressámos ao Retiro do Bosque para ocupar em exclusivo todo o alojamento desde Sexta-feira ao fim do dia até ao fim da tarde de Domingo. Este ano formou-se um grupo só de mulheres. Foi emocionante ver como rapidamente se teceram laços de proximidade entre nós, as 12 participantes (algumas repetentes!) a propósito das muitas coincidências que fomos descobrindo: profissões, pessoas, geografias, preocupações, esperanças e sonhos partilhados. Tudo alicerçado sobre a devoção à leitura e as histórias que explorámos, na óptica da biblioterapia, durante o fim se semana. Conversámos, rimos, lemos, descansámos, comemos, ouvimos os pássaros, observámos as árvores e a montanha, cuidámos umas das outras e construímos memórias comuns. Na recta final, juntou-se a nós a actriz, encenadora e autora Mafalda Santos que se integrou no grupo num ápice e, com toda a generosidade e disponibilidade, respondeu às nossas perguntas, satisfez as nossas curiosidades sobre o seu processo criativo, leu para nós o seu conto mais recente e ouviu alguns dos nossos textos também. O seu último romance é “Aquilo que o sono esconde”, que li com muito prazer, sempre espantada com a imaginação da autora para explorar de forma tão criativa e verosímil um tema fora do comum.

Destes três dias juntas resultou uma lista de mais de 70 títulos que, por uma razão ou por outra, eu ou alguma das participantes referiu ao longo das nossa conversas. Esta lista, assim comos os títulos que recomendei previamente a cada participante, serão revelados em posts futuros. Mantenham-se atenta/os!
Passei a Páscoa em Portimão, a minha terra, e essa presença a Sul foi aproveitada pela Biblioteca Municipal de ALBUFEIRA para me desafiar a celebrar com o seu público o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. Foi outro regresso, porque já tinha trabalhado na Biblioteca Municipal Lídia Jorge no início do Verão de 2024. Desta vez, dei à minha palestra o título “Leitores e autores corajosos, precisam-se!”, recordei os objectivos da UNESCO ao proclamar a data em 1995 — o levantar de um escudo protector em torno dos livros e dos autores que, trinta anos volvidos, e por diversas razões, parece ser mais necessário do que nunca — e abordei as minhas alegrias e as minhas preocupações no que a livros e direitos de autor diz respeito. Estou disponível para levar esta palestra a outros públicos. Assim, caso alguém se entusiasme com esta ideia, não deixem de entrar em contacto comigo.
Também regressei às CALDAS DA RAINHA, que tinha visitado em 2021 por ocasião de uma oficina sobre biblioterapia, para apresentar o meu livro “Ler Para Viver” à comunidade leitora. A conversa foi moderada pela bibliotecária Ainda Reis, a quem agradeço muito o convite e a companhia na minha breve passagem pela cidade. E voltei à biblioteca da PORTO BUSINESS SCHOOL (depois de em 2019 ter participado na apresentação do livro “O Vírus da Criatividade” do qual sou coautora), também para apresentar o meu livro mais recente. Desta feita a conversa foi moderada pela Helena Ribeiro, a quem agradeço a leitura escrupulosa do meu livro e a condução imaculada da nossa conversa. Esta foi a minha última actividade do mês de Abril, mas uns dias antes tive a oportunidade de ir a GÓIS pela primeira vez na vida, para dinamizar um Círculo de Biblioterapia pensado para a população sénior do município. A iniciativa aconteceu no âmbito da 27.ª Feira do Livro de Góis, uma localidade que me encantou pelo seu acolhimento, aprumo e natureza envolvente.




Se chegou até aqui, muito obrigada! Esta é uma newsletter inusitadamente longa e sei que pode ser cansativo, ou até aborrecido, acompanhar este meu registo de “tudo em todo o lado ao mesmo tempo”. Por isso, vou poupar-vos e não farei referência às minhas leituras e ou às leituras dos membros do Clube de Leitura d’a Biblioterapeuta, que manteve os seus encontros mensais apesar do meu frenesi. Abordarei esses assuntos em newsletters futuras.
Fico à vossa inteira disposição para perguntas, esclarecimentos ou desafios que me queiram propor. O meu email é abiblioterapeuta@gmail.com.
Até breve! Boas leituras!
Sandra

