O que aconteceu em Fevereiro

O mês mais curto do ano é para mim, de há vinte e cinco anos a esta parte, o mês das magnólias em flor. Creio que nunca tinha dado verdadeira atenção a estas árvores lindas, antes de vir viver para a área do Porto. Tenho, até, identificadas as minhas magnólias favoritas na cidade: a que fica na Praça da Liberdade e tem flores brancas; e uma, em particular, das três magnólias que ficam na lateral da igreja da Trindade, que tem flores cor-de-rosa. Ano após ano, é mais forte do que eu — fotografo-as sempre.

CORRENTES D’ESCRITAS

Porém, em 2025, Fevereiro voltou a ser também, e em força, o mês das Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim. A primeira vez que assisti às Correntes foi em 2001. Depois seguiu-se um longo intervalo. Voltei a ser assídua entre 2008 e 2014, e desde 2015 as minhas idas passaram a ser intermitentes. Este ano, por ocasião da 26.ª edição, saltei da plateia para o palco, como formadora convidada no âmbito da VI edição do Correntes em Rede, o programa que acontece paralelamente aos eventos literários e que oferece um curso de formação para professores, educadores e professores bibliotecários. Foi assim que, nos dias 18 e 19 de Fevereiro dinamizei a oficina “Diluir fronteiras, aproximar culturas: a biblioterapia como um lugar de encontro”. Vivi com grande alegria esta experiência de trabalho e agradeço a todos os que se inscreveram nesta oficina. Espero ter contribuído, de facto, para novas aprendizagens. Reitero, ainda, o meu agradecimento à fantástica equipa que organiza e produz as Correntes d’ Escritas pelo convite que me fez tão feliz.

Ainda no decorrer das Correntes d’Escritas, participei no lançamento do 8.º número da revista semestral “Palavrar – Ler e escrever é resistir”, na qualidade de cronista regular. A minha crónica mais recente tem o título “Diz-me o que ouves” e pode ser lida gratuitamente online, assim como todo o conteúdo da revista. Em meados deste ano, este mesmo número da “Palavrar” sairá em papel, um marco no percurso de um projecto editorial singular que existe há já quatro anos.

BOAS NOTÍCIAS

Fevereiro trouxe duas boas notícias. Primeiro, esgotaram-se as vagas para o Retiro de Leitura que acontecerá em Minde nos dias 11, 12 e 13 de Abril. O grupo de participantes será pequeno, porque só assim posso dar a merecida atenção a cada uma das pessoas que se inscreveu. A quem não conseguiu vaga, fica a promessa de organizar um novo retiro em breve. Segundo, recebi a notícia que fui aceite como candidata ao Doutoramento em Estudos Literários na Universidade de Aveiro. Portanto, em Setembro abrir-se-á um novo ciclo na minha vida e no estudo da relação entre literatura e terapia. Espero conseguir gerir de forma airosa a exigência do estudo com a exigência do trabalho.

Fui, ainda, surpreendida com a breve menção ao meu trabalho num podcast que não conhecia: “Bitalk – Negócios à portuguesa“. No episódio n.º 218 o convidado é o médico Manuel Pinto Coelho que cita o meu nome e o meu livro quando discute com os moderadores sobre a insónia e estratégias de controle emocional. Se estiverem interessados em ouvir apenas essa parte, devem ir directos ao minuto 60 (o episódio tem mais de uma hora e meia).

AS MINHAS LEITURAS

Em Fevereiro li oito livro. Mas quero falar-vos dos que preferi: “A Uruguaia“, de Pedro Mairal e “Saber Perder” de Margarida Ferra.

Sobre “A Uruguaia“, que está exemplarmente traduzido — parabéns Carla Maia de Almeida! —, devo começar por dizer que conheço muito bem os cenários onde a história se desenrola, entre Buenos Aires, Montevideu e algumas zonas da costa uruguaia. E é claro que isto ajuda muitíssimo a entrar na história, a conjurar imagens mentais, a respirar os ambientes e, no meu caso, a invocar memórias de tempos muito felizes. Porém, sei que não foi esta minha pré-condição que determinou ter gostado tanto deste romance. A escrita é muito boa, a história, inventiva, mas o que me conquistou — e há muito tempo que isto não me acontecia em histórias com personagens masculinos a viver um certo “desvario” — foi a habilidade do autor para que eu acolhesse com prazer, diversão e compaixão a testosterona que escorre destas páginas. Dito de forma simples, adorei estar na cabeça de Lucas, o protagonista; adorei ser Lucas enquanto a história durou, porque me identifiquei com ele; e gostei dos comentários que tece sobre o casamento e outras convenções sociais, a monogamia e a paternidade. Dizer que o protagonista sofre uma crise de meia idade seria redutor e, até, um insulto ao autor e ao seu personagem. O que acontece a Lucas é uma epifania. Sofre para lá chegar, mas depois acerta o passo e vive a sua verdade.

No sentido oposto, ouso dizer, está o belíssimo e muito sereno (apesar das inquietações da autora, eu sei) “Saber Perder“. Que delícia, entrar no mundo sussurrado de Margarida Ferra (foi assim que a li, como se me falasse ao ouvido) — nos seus pensamentos, nas suas memórias, nas suas rotinas, nas suas observações sobre a beleza do quotidiano e as coincidências que o permeiam; na forma como vive a relação com os outros, com os objectos que possui e que perde e com os espaços que os objectos e os outros ocupam; nas suas ponderações sobre a vontade de escrever, sobre o tempo da escrita e o tempo que passa. A poetisa que há na Margarida tempera todos os pequenos textos deste volume, em jeito de entradas diarísticas. Um livro que revela uma alma madura, sage. Um livro que eu não queria que acabasse.

OS LIVROS DO CLUBE DE LEITURA D’ A BIBLIOTERAPEUTA

Em Fevereiro, não houve tema a orientar a escolha das nossas leituras. Por isso, cada um leu o que lhe apeteceu e, como habitualmente, escolheu um livro (ou dois, ou três, porque às vezes entusiasmamo-nos) para aptresentar aos outros membros do grupo. Estes foram os títulos que pontuaram o encontro:

Em Março, para além das habituais actividades no Porto, e de um projecto que tenho de entregar a tempo de uma candidatura, levarei a biblioterapia a quatro cidades do país: Faro, Entroncamento, Lisboa, e Paços de Ferreira. Falar-vos-ei destes eventos, com certeza, na próxima newsletter. Até lá, desejo-vos tudo de bom, as boas leituras incluídas!

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