A maior parte das pessoas que lamenta profundamente não ler mais argumenta, com ar muito pesaroso, que não tem tempo. Admito que em casos pontuais a tarefa seja mesmo impossível, mas estou convencida que todos os outros não lêem porque não querem.
Como em tudo na vida, quando queremos muito fazer alguma coisa arranjamos tempo. Portanto, se ler é mesmo uma prioridade a falta de tempo não pode ser argumento. Desligam-se os telemóveis, os computadores, os tablets ou a televisão, leva-se um livro para todo o lado e aproveita-se cada intervalo ou fila de espera, marca-se uma hora na agenda se for preciso e lê-se.
A par da falta de tempo também ouço muitas vezes observações acerca da suposta falta de paciência para livros grandes. Há gente que diz perder-se no enredo e no número de personagens, queixa-se que a acção não avança ou esquece-se do que leu nos capítulos anteriores.
Naturalmente, os livros não se medem aos palmos. É possível consumir com voracidade um calhamaço de oitocentas páginas e demorar uma eternidade a digerir um ensaio filosófico hermético com apenas oitenta. Contudo, aos que se queixam do tamanho excessivo dos livros e da falta de tempo para ler, dou por mim a recomendar com frequência pequenas obras.
Tenho um fraco por pequenos bons livros. Chamo-lhes “pérolas”. Gosto de andar com eles nas carteiras com que saio de casa, aprecio a forma como encaixam na palma de uma única mão e emociona-me a capacidade de se escrever tão bem — alguns são obras-primas — em tão poucas páginas.
Inspirada pelas listas de leituras para anglófonos que abundam na net, ocorreu-me seleccionar uns quantos livros, dos muitos que tenho em casa, para inspirar a ler mais. Os títulos que se seguem têm duzentas páginas ou menos, li-os todos e recomendo-os:
- A Casa de Papel, de Carlos María Domínguez, Edições ASA, 78 páginas
- A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, Dom Quixote, 167 páginas
- A Herança de Eszter, de Sándor Márai, Dom Quixote, 150 páginas
- À Lareira, nos Fundos da Casa onde o Retorta tem o Café, de Manuel da Fonseca, Círculo de Leitores, 142 páginas
- A Montanha da Água Lilás, de Pepetela, BIS, 160 páginas
- A Pérola, de John Steibeck, Livros do Brasil, 109 páginas
- A Última Amante de Hachiko, de Banana Yoshimoto, Cavalo de Ferro, 97 páginas
- A Vida Inútil de José Homem, de Marlene Ferraz, Gradiva, 172 páginas
- Adeus, Tsugumi, de Banana Yoshimoto, Cavalo de Ferro, 159 páginas
- As Rosas de Atacama, de Luis Sepúlveda, Porto Editora 144 páginas
- As Velas Ardem Até ao Fim, de Sándor Márai, Dom Quixote, 153 páginas
- Como Um Romance, de Daniel Pennac, Edições ASA, 166 páginas
- Contos Orientais, de Marguerite Yourcenar, D. Quixote, 158 páginas
- Crónica de Uma Morte Anunciada, de Gabriel García Márquez, Dom Quixote, 136 páginas
- Crónica do Rei Pasmado, de Gonzalo Torrente Ballester, Caminho, 181 páginas
- Guardador de Almas, de Rui Vieira, Ambar, 126 páginas
- História de uma Gaivota e de um Gato que a Ensinou a Voar, de Luis Sepúlveda, Porto Editora, 144 páginas
- História Universal da Infâmia, de Jorge Luis Borges, Quetzal, 104 páginas
- Indignai-vos!, de Stéphane Hessel, Objectiva, 51 páginas
- Mar, de Afonso Cruz, Alfaguara, 179 páginas
- Memória das Minhas Putas Tristes, de Gabriel García Márquez, Dom Quixote, 114 páginas
- Morder-te o coração, de Patrícia Reis, Booket, 139 páginas
- Morreste-me, de José Luís Peixoto, Quetzal, 60 páginas
- Na Ausência de Blanca, de António Muñoz Molina, Editorial Notícias, 88 páginas
- No teu Deserto, de Miguel Sousa Tavares, Oficina do Livro, 125 páginas
- Novelas Eróticas, de Manuel Teixeira Gomes, Relógio d’Água, 112 páginas
- O Amante, de Marguerite Duras, Edições ASA, 126 páginas
- O Banqueiro Anarquista, de Fernando Pessoa, elógio d’Água, 88 páginas
- O Engenho, de Reinaldo Arenas, Antígona, 116 páginas
- O Estrangeiro, de Albert Camus, Livros do Brasil, 130 páginas
- O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, Editorial Presença, 174 páginas
- O Lázaro do Porto, de Cristina Norton, Temas & Debates, 115 páginas
- O Leitor, de Bernard Schlink, Edições ASA, 144 páginas
- O Mar, de John Banville, Sextante Editora, 200 páginas
- O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, Assírio & Alvim, 96 páginas
- O Rapaz do Pijama às Riscas, de John Boyne, Edições ASA, 176 páginas
- O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, de Germano Almeida, BIS, 151 páginas
- O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, Livros do Brasil, 108 páginas
- O Velho que Lia Romances de Amor, de Luis Sepúlveda, Porto Editora, 128 páginas
- O Vice-Rei de Ajudá, de Bruce Charwin, Quetzal, 143 páginas
- Os Melhores Contos Zen, Teorema, 120 páginas
- Os níveis da Vida, de Julian Barnes, Quetzal, 112 páginas
- Patagónia Express, Luis Sepúlveda, Porto Edirora, 160 páginas
- Pedro Páramo, de Juan Rulfo, Cavalo de Ferro, 117 páginas
- Pobby e Dingan, de Ben Rice, Dom Quixote, 77 páginas
- Se Isto é um Homem, de Primo levi, Teorema, 183 páginas
- Siddhartha, de Herman Hesse, 153 páginas
- Temor e Tremor, de Amélie Nothomb, Edições ASA, 120 páginas
- Transa Atlântica, de Mónica Marques, Quetzal, 185 páginas
- Travessia de Verão, de Truman Capote, BIS, 122 páginas
Boas leituras!
uma boa opção também, é o livro Na Colonia penal de Franz Kafka, tem 44 paginas, mas realmente é intenso
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Onde eu olhei tem 70 Pág
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Obrigada, Gabriela. Vou incluir na minha lista de leituras futuras. 🙂
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Gostaria de saber gentileza, qual o numero minimo de paginas devera ter um livro para ser considerado como ROMANCE?
Muito grato.
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